“Era uma vez um homem chamado Jesus. Ele nasceu em Belém…”.
Pára e pensa: “Não, Belém é baixo nível demais, ninguém vai acreditar em um enviado de Deus nascido lá. Já sei, Rio de Janeiro!”.
Continuando: “Ele nasceu no Rio de Janeiro, em uma estrebaria…”.
Pensa de novo: “Estrebaria não, desse jeito vão achar que ele foi pobre. Vou melhorar isso”.
Continua: “Ele nasceu no Barra Dor. Viveu sua infância em uma cobertura em Ipanema. Quando criança, crescia em graça diante de Deus e dos homens, pois demonstrava espírito empreendedor. Aos 12 anos, já era um micro-empresário bem sucedido, e seus colegas de escola eram seus empregados…”.
Hum… vamos escrever logo o final:
“Então Ele morreu na cruz pelos nossos pecados.”
Pensa de novo: “Não, morrer na cruz é um péssimo final para alguém rico. Ele foi para um spa… Então prometeu que um dia voltaria, e levaria todos para morar em Mônaco. Tornou-se assim nosso Salvador, pois com Ele ficamos milionários!”.
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Normalmente, poucas coisas conseguem deixar meu estômago mais embrulhado, ou me deixar mais indignado, do que a Teologia da Prosperidade. Mas o que vi ontem foi muito engraçado, não contive as risadas: “Faça uma oferta e receba a unção financeira! Você verá que em seis meses sua vida financeira mudará. Você não precisará correr e se esforçar por essa vitória. Ela correrá atrás de você!”.
O texto base da pregação foi Deuteronômio 28:2: “Se ouvirdes a voz do SENHOR, teu Deus, virão sobre ti e te alcançarão todas estas bênçãos”. O melhor de tudo foi ver o pregador deixar a entender que “ouvir a voz do Senhor” significava ofertar para aquele ministério (o valor pedido era de quase dois salários mínimos).
É interessante perceber como estas pregações sobre vitória financeira e vida fácil quase sempre tem por base versículos isolados do Antigo Testamento, texto fora de contexto. Fico imaginando um abençoado desses tentando pregar que todos vão prosperar economicamente, usando como texto base o caso em que Jesus mandou um jovem rico vender tudo o que tinha e doar aos pobres (Mt 19:16-22; Mc 10:17-22; Lc 18:18-23). Ou o próprio Senhor dizendo, na seqüência, que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus. Olhar para a cruz constrange aqueles que querem um evangelho realizador de desejos mundanos.
Não há nada de errado em prosperar economicamente. A própria Bíblia diz que o Senhor não deixará os que o buscam passar necessidade. Mas é terrível para a alma do homem quando ele tem o dinheiro como a grande meta de sua vida. Muitos estão procurando, e outros oferecendo, um evangelho pobre espiritualmente, enganoso, no qual Deus não passa de um pai “dono de todo ouro e prata”, como costumam dizer. Nada mais é do que uma solução Tabajara para a vida financeira das pessoas (Sem dinheiro para nada? Seus problemas acabaram! Doe tantos reais e ganhe a unção financeira!). Daqui a pouco vai ter gente querendo reescrever a vida de Jesus, por perceber que ela é incompatível com a vida de ostentação que pregam.
Há pouco mais de seis anos, conheci um Salvador (o único verdadeiro). Ele não me deu um cartão de crédito sem limite, um emprego de pouco trabalho e grande remuneração, ou um carro. Ele me ofereceu antes de mais nada o perdão dos meus pecados. Disse-me também que o pão não me faltaria (nunca me prometeu bacalhau, caviar ou lagosta no jantar). Disse que eu encontraria Nele paz e conforto em meio às agitações da vida. Como Ele não é homem para que minta, tudo isso Ele tem feito. Até aqui me ajudou o Senhor.
A graça e paz do Cristo crucificado sejam contigo!
Marcelo Fernandes